Simbolismo no Brasil
O Simbolismo no Brasil foi um movimento literário que surgiu no final do século XIX, consolidando-se a partir de 1893, como reação ao objetivismo do Realismo, ao cientificismo do Naturalismo e ao rigor formal do Parnasianismo. Inspirado no Simbolismo europeu, sobretudo francês, o movimento valorizou a subjetividade, o misticismo, a musicalidade da linguagem e o poder de sugestão das palavras.
Contexto Histórico e Cultural
O Simbolismo desenvolveu-se em um período de intensas transformações políticas, sociais e culturais no Brasil, marcado pelo fim da Monarquia, pela Proclamação da República e pela crise das certezas científicas e positivistas do século XIX.
Nesse contexto, muitos escritores passaram a questionar a ideia de que a realidade poderia ser plenamente explicada pela razão. A literatura simbolista surge, assim, como uma resposta estética e espiritual, voltada para o inconsciente, o mistério, o sonho e a transcendência.
Características do Simbolismo
O Simbolismo apresenta uma estética marcada pela sugestão e pela valorização da experiência interior. Entre suas principais características, destacam-se:
- Subjetivismo: expressão dos sentimentos, estados de alma e emoções profundas.
- Musicalidade: uso expressivo do ritmo, da sonoridade e da repetição.
- Linguagem simbólica: palavras que sugerem sentidos, em vez de explicá-los diretamente.
- Misticismo e espiritualidade: presença do sagrado, do transcendental e do oculto.
- Sinestesia: fusão de sensações (sons, cores, cheiros e sentimentos).
- Vaguidade e sugestão: imagens indefinidas, atmosféricas e oníricas.
Principais Autores e Obras
O Simbolismo brasileiro destacou-se principalmente na poesia, revelando autores que exploraram intensamente a musicalidade, a introspecção e o espiritualismo.
| Autor | Obras | Destaques |
|---|---|---|
| Cruz e Sousa | Broquéis, Missal, Faróis | Musicalidade intensa, imagens etéreas, espiritualização da linguagem |
| Alphonsus de Guimaraens | Câmara Ardente, Kiriale, Setenário das Dores de Nossa Senhora | Religiosidade, melancolia, amor idealizado e morte |
| Augusto dos Anjos | Eu | Angústia existencial, pessimismo, tensão entre matéria e espírito |
Trechos Comentados de Obras Simbolistas
Cruz e Sousa — Broquéis (1893)
“Formas alvas, brancas, Formas claras
De luares, de neves, de neblinas...”
Nesse trecho, predominam imagens claras, etéreas e indefinidas, que não descrevem um cenário concreto, mas criam uma atmosfera espiritualizada. A repetição de sons suaves intensifica a musicalidade e reforça a ideia de sugestão, característica central do Simbolismo.
Alphonsus de Guimaraens — Câmara Ardente (1899)
“A minha alma é uma catedral antiga,
Onde ecoam salmos de tristeza…”
A metáfora da alma como “catedral” associa o interior humano ao sagrado. A dor aparece de forma indireta, transformada em canto religioso, o que revela a espiritualização do sofrimento e a contemplação mística típicas da poesia simbolista.
Augusto dos Anjos — Eu (1912)
“Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância…”
Nesse verso, o eu lírico é definido por elementos científicos e contraditórios, simbolizando a fragilidade e a angústia do ser humano. A ciência deixa de ser explicação racional e passa a funcionar como símbolo da condição existencial.
O Simbolismo na Prosa Brasileira
Embora o Simbolismo tenha se destacado principalmente na poesia, sua influência na prosa brasileira foi significativa, sobretudo no plano psicológico e introspectivo.
A prosa simbolista não se concentra na ação externa nem na descrição objetiva da realidade. O foco desloca-se para o mundo interior das personagens, explorando emoções, conflitos íntimos, sonhos, delírios e estados de consciência.
Entre as principais características da prosa influenciada pelo Simbolismo, destacam-se:
- Predomínio da análise psicológica
- Linguagem poética e sugestiva
- Clima de mistério, melancolia ou espiritualidade
- Ruptura com a narrativa linear tradicional
- Valorização da introspecção e da subjetividade
Autores como Gonzaga Duque e Nestor Vítor produziram narrativas marcadas por reflexões existenciais, frustrações artísticas e crises interiores, antecipando procedimentos que seriam aprofundados pelo Modernismo, como o fluxo de consciência e a fragmentação narrativa.
Simbolismo x Outros Movimentos
O Simbolismo diferencia-se de outros movimentos literários do período:
- Realismo: objetividade, crítica social e racionalismo.
- Parnasianismo: rigor formal, impessoalidade e arte pela arte.
- Simbolismo: subjetividade, musicalidade e sugestão.
Importância e Legado
O Simbolismo foi fundamental para ampliar as possibilidades expressivas da literatura brasileira, rompendo com o excesso de racionalismo e valorizando a dimensão subjetiva da linguagem.
Ao preparar o terreno para o Modernismo, o movimento contribuiu para uma nova concepção de arte literária, na qual a palavra deixa de apenas representar a realidade e passa a evocar sensações, emoções e mistérios.
Conclusão
O Simbolismo no Brasil consolidou-se como um movimento literário marcado pela introspecção, pela espiritualidade e pela força sugestiva da linguagem. Mesmo tendo sido um movimento de duração relativamente curta, sua influência permanece viva na poesia e na prosa brasileiras, especialmente na valorização da subjetividade e da experiência interior.
“O Simbolismo representa uma reação espiritualista contra o cientificismo e o objetivismo dominantes no final do século XIX, valorizando a sugestão, o mistério e a musicalidade da linguagem poética.” — Alfredo Bosi, História Concisa da Literatura Brasileira
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