Polissemia e Homonímia: Como Reconhecer e Interpretar Palavras de Múltiplos Sentidos
Entenda como significados se constroem na língua e influenciam a interpretação
A compreensão de fenômenos lexicais> como polissemia e homonímia é fundamental para o estudo do léxico, da semântica e da interpretação textual. Em especial, esses fenômenos exercem papel decisivo na produção e na leitura de piadas, trocadilhos e provérbios, que exploram ambiguidades linguísticas para gerar efeitos humorísticos, argumentativos ou pedagógicos. Além disso, o domínio desses conceitos contribui para a compreensão de textos diversos, desde enunciados cotidianos até discursos literários.

1. Polissemia: uma palavra, vários sentidos
A polissemia ocorre quando uma única palavra apresenta múltiplos significados relacionados entre si. Os sentidos derivam historicamente de um núcleo semântico comum, expandindo-se a partir de metáforas, metonímias ou usos culturais consolidados.
Segundo Ilari e Geraldi (2015), a língua é um sistema dinâmico e, por isso, os significados das palavras se transformam conforme mudanças sociais, históricas e pragmáticas. Os autores afirmam que:
"A polissemia resulta da capacidade que as palavras possuem de se adaptar a contextos variados. Uma mesma forma lexical pode assumir diferentes interpretações sem que haja perda de sua identidade. Essa flexibilidade do signo linguístico é uma característica constitutiva das línguas naturais, que se reorganizam constantemente de acordo com as necessidades comunicativas de seus falantes."
Essa multiplicidade de sentidos pode ser observada em palavras como:
- cabeça – parte do corpo / líder ("cabeça da equipe") / início ("cabeça da lista")
- banco – instituição financeira / assento / conjunto de dados ("banco de dados")
- ponto – sinal gráfico / local / exatidão / matéria de prova / marcação no tecido
A escolha do sentido adequado depende do contexto, da situação comunicativa e do conhecimento de mundo do falante e do leitor. Assim, a polissemia revela que a língua é essencialmente interpretativa e contextual.
Polissemia e Humor
Piadas e trocadilhos exploram o fato de que uma mesma palavra pode ativar mais de um significado. Essa ambiguidade é o mecanismo que sustenta a surpresa, a quebra de expectativa e o efeito humorístico.
Exemplo: “O médico ficou sem pacientes.” – polissemia de “paciente”: pessoa sob cuidado médico / pessoa calma.
2. Homonímia: palavras iguais, sentidos distintos
A homonímia ocorre quando duas palavras apresentam a mesma forma — seja na escrita, na pronúncia ou em ambas — mas possuem origem e significados diferentes. Nesse caso, não há relação semântica entre os sentidos, e sim coincidência formal.
De acordo com Biderman (2001), a homonímia deve ser entendida como produto da história das línguas, resultado de processos fonológicos e morfológicos que fazem com que palavras originalmente diferentes convirjam para formas idênticas. A autora explica:
"A homonímia representa um ponto de colisão entre histórias lexicais distintas. Palavras que tiveram trajetórias etimológicas diversas podem assumir, em determinado estágio da língua, uma forma idêntica. A igualdade gráfica ou fônica, entretanto, não implica qualquer proximidade de significado, sendo responsabilidade do contexto eliminar ambiguidades."
Tipos de homônimos
- Homógrafos – mesma escrita, pronúncia diferente (pelo substantivo / pêlo forma verbal).
- Homófonos – mesma pronúncia, escrita diferente (cela / sela).
- Homônimos perfeitos – mesma escrita e pronúncia (manga fruta / manga de camisa).
Exemplos:
- manga – parte da roupa / fruta
- vela – objeto que queima / parte do motor
- rio – verbo "rir" / curso d’água
Homonímia e Humor
Trocadilhos frequentemente exploram homônimos, produzindo sentidos inesperados.
Exemplo: “Fui ao banco, mas ele estava fechado. Então sentei no da praça.” – homonímia de banco: instituição financeira / assento.
3. Polissemia e Homonímia na Interpretação de Provérbios
Provérbios dependem fortemente de mecanismos semânticos e culturais. Muitos deles mobilizam duplos sentidos ou relações metafóricas que aproximam a polissemia do campo da sabedoria popular.
Exemplo: “Quem planta vento, colhe tempestade.” – sentido metafórico de “plantar” e “colher”, que originalmente pertencem à agricultura.
Os provérbios também podem apresentar ambiguidades que exigem do leitor competência interpretativa. Essas ambiguidades contribuem para a riqueza expressiva do gênero proverbial.
4. Interpretação: como distinguir polissemia de homonímia
Para leitores, estudantes e profissionais da linguagem, a distinção entre polissemia e homonímia é essencial. Ela orienta a interpretação de textos, evita equívocos comunicativos e fortalece a competência semântica.
Critério principal: relação semântica
- Há relação de sentido? → polissemia.
- Não há relação de sentido? → homonímia.
Capes (2012) explica, em paráfrase, que o intérprete deve considerar tanto a história da palavra quanto seu uso atual para identificar se os significados compartilham um núcleo semântico ou se são produtos de coincidências formais.
5. Tabela-resumo para SEO e estudos rápidos
| Fenômeno | Definição | Exemplos |
|---|---|---|
| Polissemia | Uma palavra com múltiplos sentidos relacionados | cabeça, ponto, banco |
| Homonímia | Palavras iguais na forma, mas sem relação de significado | vela, manga, rio |
Conclusão
O estudo da polissemia e da homonímia revela o caráter multifacetado da língua, cuja riqueza se manifesta justamente nas possibilidades interpretativas. Compreender essas diferenças permite não apenas interpretar textos com mais precisão, mas também apreciar melhor os usos criativos da linguagem — especialmente em piadas, trocadilhos e provérbios, onde a ambiguidade é fonte de humor, crítica e reflexão.
Referências
BIDERMAN, Maria Tereza Camargo. As ciências do léxico: lexicologia, lexicografia e terminologia. São Paulo: Contexto, 2001.
CAPES, Magali Sanches. Semântica e ensino: sentidos e interpretação na prática pedagógica. Campinas: Pontes Editores, 2012.
ILARI, Rodolfo; GERALDI, João Wanderley. Semântica. 10. ed. São Paulo: Ática, 2015.
LYONS, John. Semantics. Cambridge: Cambridge University Press, 1977.
ULLMANN, Stephen. Semântica: uma introdução à ciência do significado. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1962.
COSERIU, Eugenio. Introdução à linguística. São Paulo: Global, 2004.
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