Gêneros Discursivos Midiáticos: características e estratégias retóricas
Os gêneros discursivos midiáticos surgem em um contexto em que a comunicação é mediada por diferentes tecnologias e plataformas. A mídia — seja tradicional, como jornal e televisão, ou digital, como redes sociais e podcasts — organiza a circulação de sentidos por meio de formas relativamente estáveis de enunciados, que respondem a objetivos comunicativos específicos.
Esses gêneros não apenas informam, mas também influenciam, entretenem e constroem realidades sociais, mobilizando estratégias retóricas que variam conforme o público-alvo e o meio de circulação.
Principais gêneros discursivos midiáticos
Reportagem
- Estrutura: narrativa jornalística com título, lide (resumo inicial), desenvolvimento (contexto e dados), depoimentos e conclusão.
- Intenção comunicativa: informar de forma detalhada, contextualizando fatos.
- Estratégias retóricas: uso de dados estatísticos e fontes especializadas para construir credibilidade; testemunhos de personagens para gerar proximidade.
- Exemplo: reportagens da Folha de S. Paulo ou da BBC News.
Editorial
- Estrutura: texto opinativo que expressa a posição institucional de um veículo.
- Intenção comunicativa: persuadir e orientar a leitura do público.
- Estratégias retóricas: argumentação baseada em valores; modalizadores como “é necessário” e “urge que”.
- Exemplo: editoriais do O Estado de S. Paulo.
Publicidade
- Estrutura: anúncio visual, textual ou audiovisual planejado para promover bens, serviços ou ideias.
- Intenção comunicativa: persuadir o público.
- Estratégias retóricas: apelo emocional (pathos); recursos multimodais como cores, músicas e slogans.
- Exemplo: campanha “Real Beleza” da Dove.
Memes
- Estrutura: unidade de comunicação digital, geralmente uma imagem ou vídeo curto.
- Intenção comunicativa: entreter, ironizar ou criticar.
- Estratégias retóricas: uso da intertextualidade e humor como crítica social.
- Exemplo: memes políticos em campanhas eleitorais.
Talk Shows
- Estrutura: programas de entrevistas, debates e performances.
- Intenção comunicativa: entreter e debater temas sociais e culturais.
- Estratégias retóricas: humor e ironia; apresentador como mediador carismático.
- Exemplo: The Tonight Show (EUA) e Programa do Jô (Brasil).
Podcasts
- Estrutura: episódios em áudio, variando entre entrevistas, narrativas ou bate-papos.
- Intenção comunicativa: informar, debater ou entreter.
- Estratégias retóricas: oralidade marcada; ethos de proximidade e autenticidade.
- Exemplo: Café da Manhã (Folha de S. Paulo) e Flow Podcast (Brasil).
Elementos linguísticos e paralinguísticos
A comunicação midiática não se restringe à palavra escrita. Ela combina múltiplos recursos:
- Imagem: fotografia, infográfico, memes, elementos gráficos.
- Som: trilhas sonoras, efeitos, vinhetas.
- Entonação: ritmo e ênfase da voz em podcasts, rádios e TV.
Estrutura, intenção comunicativa e ethos discursivo
Cada gênero é organizado de acordo com uma estrutura estável que facilita o reconhecimento pelo público. O ethos discursivo — a imagem que o enunciador constrói de si — é central:
- Jornalismo → imparcialidade.
- Publicidade → inovação e confiabilidade.
- Memes → criatividade, humor e crítica social.
Multimodalidade e performatividade do discurso
Na era digital, a mídia intensifica a multimodalidade, combinando texto, som, imagem e interação. O discurso se torna também performativo, pois a forma de apresentação (cenário, gestos, edição) é parte essencial da construção de sentido.
- Exemplo multimodal: reportagens interativas do New York Times.
- Exemplo performativo: youtubers e influencers que constroem credibilidade também pela linguagem corporal e cenário.
Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
MAINGUENEAU, Dominique. Análise de textos de comunicação. São Paulo: Cortez, 2004.
CHARAUDEAU, Patrick. Discurso das mídias. São Paulo: Contexto, 2010.
FAIRCLOUGH, Norman. Media Discourse. London: Arnold, 1995.
ROJO, Roxane; BARBOSA, Jorge Luiz. Gêneros discursivos e ensino. Campinas: Mercado de Letras, 2015.